personagens rasos mas “eruditos” — belo mundo onde você está de Sally Rooney (sem spoiler)

Lívia Martins
2 min readMar 10, 2024

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“Vai ver que é por isso que as pessoas de meia-idade sempre acham que seus pensamentos e sentimentos são mais importantes que os dos jovens, porque só conseguem ter uma vaga recordação dos sentimentos da juventude e permitem que suas vivências atuais dominem a perspectiva de vida que têm.”

Não sei se começar a ler Sally Rooney com esse livro foi uma boa ideia. Como ela é uma escritora hypada eu iniciei a leitura com expectativas moderadas (as vezes até elevadas, mas não foi o caso aqui).
A história gira em torno de 4 personagens, Alice, Felix, Eileen e Simon. Alice, Eileen e Simon são amigos de longa data, mas enfrentam alguns problemas na relação.
Vamos começar destacando aspectos positivos no livro: as cartas. Soube por uma mutual (essa palavra na minha tradução livre fica: colega de rede social hahah), que muitos leitores não gostaram das cartas por serem extensas e complexas. Para mim foi o ponto alto do obra.
As cartas são sensíveis e cruas, o que parece refletir o estilo da autora. Por meio delas conseguimos mergulhar no subjetivo dos personagens, explorando seus pensamentos políticos e sociais, isso me ajudou a entender como que eles enxergavam o mundo.
Agora vamos aos pontos negativos, que infelizmente se sobressaíram para mim.
Não empatizei com nenhum personagem, embora eu aprecie a ideia de “personagens que não são nem bons e nem ruins”, mas nesse caso, mesmo com as falhas expostas eu não consegui me conectar com eles. Isso costuma me aproximar dos personagens mas acabou me afastando. Pra esclarecer: todos os personagens são, de alguma forma, INSUPORTAVEIS.
Outro ponto de incomodo, foi a presença da religiosidade na obra. Não sei se isso é uma característica recorrente nos livros da autora, mas me incomodou. Emendando nesse teor religioso posso reclamar também dos fetiches que esses personagens possuem (daddy issue e mommy issue fortíssimo), nesse quesito o que me incomodou é a forma que eles se expressavam sobre isso… pareceu ilegal.

“Olhe só o que os conservadores fazem do meio ambiente: a ideia deles é extrair, saquear e destruir, “porque é o que a gente sempre fez” — mas é justamente devido a esse fato que a terra com a qual fazemos isso já não é mais a mesma.”

Apesar de tudo isso, gostei da leitura como um todo, tenho esperanças de gostar de “Pessoas Normais”. E isso é porque Sally escreve de um jeito que instiga reflexões, e eu valorizo escritas realistas.

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