Helena — Machado de Assis

post originalmente de: 7/5/2023

Lívia Martins
2 min readFeb 21, 2024
"Não me culpeis pelo que lhe achardes romanesco. 
Dos que então fiz, este me era particularmente prezado.
Agora mesmo, que há tanto me fui a outras e diferentes páginas,
ouço um eco remoto ao reler estas, eco de mocidade e fé ingênua.
É claro que, em nenhum caso, lhes tiraria a feição passada;
cada obra pertence ao seu tempo." (Machado de Assis).

O trecho acima representa Machado compartilhando seus sentimentos em relação à obra. Quando ele diz “não me culpeis pelo que lhe achardes romanesco”, ele indica que Helena foi escrito em uma fase diferente de sua escrita, pois o livro é plenamente romântico, enquanto ele passou a escrever obras realistas-naturalistas posteriormente. Assim, ele pede para que não o julguem por essa história puramente romântica que vem a seguir.

Ao dizer “Dos que então fiz, este me era particularmente prezado”, ele expressa que, no momento em que escreveu, esse estilo era o que ele gostava de seguir. Ele completa mencionando que escuta um eco nas páginas de Helena, um “eco de mocidade e fé ingênua”. E conclui com a bela frase “cada obra pertence ao seu tempo”, que considero importante levarmos em consideração ao ler todas as obras.

O romance Helena, de Machado de Assis, narra a trágica separação dos protagonistas devido a um amor frustrado pelas convenções sociais. No entanto, essa obra não se limita apenas a um conflito central. Há vários elementos antagônicos que se chocam, revelando a estrutura de uma sociedade em transformação ou decadência: costumes sociais, indefinição ideológica, busca de prestígio por meio da carreira política, inutilidade dos estudos, patriarcalismo e dissolução do casamento.

A história circula o tema perseguido pelos românticos: o amor impossível, frustrado pelas convenções, que só encontra solução na renúncia total à felicidade ou na morte. Ela revela elementos de uma sociedade em mudança. A política é retratada apenas como oportunismo, sem preocupação com as necessidades públicas, isso é apresentado para que o leitor a decifre, característica típica machadiana.

Na primeira parte do livro, temos uma narrativa clássica que eu considerei lenta, mas na segunda parte surgem elementos melodramáticos que me prenderam à história. E todo o texto é permeado pelo humor irônico que só Machado consegue escrever. É uma leitura que vale a pena para conhecer essa faceta romântica de Machado.

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